NOTA DE AULA II
(continuação)
Fontes: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/presocratico.htm>,
http://www.grupoescolar.com/pesquisa/a-teoria-atomistica.html
Introdução
Um
estudo sistemático da filosofia grega obriga-nos à divisão da história. Assim,
por questões pedagógicas, divide-se a história da filosofia grega em três
grandes períodos:
I. Período pré-socrático (séc. VII-V
a.C.) - Problemas cosmológicos. Período
Naturalista: pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o
mundo da natureza;
II. Período socrático (séc. IV a.C.) -
Problemas metafísicos. Período Sistemático ou Antropológico: o
período mais importante da história do pensamento grego (Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natureza é integrado com
o interesse pelo espírito e são construídos os maiores sistemas
filosóficos, culminando com Aristóteles;
III. Período pós-socrático (séc. IV a.C. - VI d.C.) -
Problemas morais. Período Ético: em que o interesse filosófico é
voltado para os problemas morais, decaindo entretanto a metafísica;
Primeiro
Período
O
primeiro período do pensamento grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente
especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior,
julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e
toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque
precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e,
por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento grego,
embora os questionamentos dos pré-socráticos perpassem o tempo pós-socrático.
Esse primeiro período tem início no VI
século a.C. e termina dois séculos depois, mais ou menos, nos fins do século V.
Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu
(Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra
crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar
econômico.
Os filósofos deste período
preocuparam-se quase exclusivamente com os problemas
cosmológicos e descobrir a origem do mundo. Visavam descobrir a “archè”,
que é o princípio físico do qual derivou todo o Universo.
Perguntas principais dos filósofos do
período pré-socrático são: de onde veio o mundo, os seres humanos, os animais,
os minerais etc.? Como é que as coisas do mundo surgem e evoluem? Daí eles
serem chamados de “filósofos da natureza”,
ou “filósofos da phisis”, ou “filósofos da arkhé”.
Em síntese, buscaram os pré-socráticos
estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas
contínuas mudanças a que está sujeito, questões que dão unidade a este período.
Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele
floresceram em quatro escolas: Escola Jônica; Escola
Itálica; Escola Eleática; Escola Atomística.
Assistamos ao vídeo abaixo:
Escola
Jônica
A
Escola Jônica, assim chamada por ter florescido nas colônias jônicas da Ásia
Menor, compreende os jônios antigos e os jônios posteriores ou juniores. A
escola jônica é também a primeira do
período naturalista, preocupando-se os seus expoentes com achar a substância única, a causa, o princípio do
mundo natural vário, múltiplo e mutável.
Essa
escola floresceu precisamente em Mileto,
colônia grega do litoral da Ásia Menor, durante todo o VI século, até a
destruição da cidade pelos persas no ano de 494 a.C., prolongando-se porém
ainda pelo V século.
Os
jônicos julgaram encontrar a substância última das coisas em uma matéria única;
e pensaram que nessa matéria fosse imanente uma força ativa, de cuja ação
derivariam precisamente a variedade, a multiplicidade, a sucessão dos fenômenos
na matéria una. Daí ser chamada esta doutrina hilozoísmo (matéria animada). Os
jônios antigos consideram o Universo do ponto de vista estático, procurando
determinar o elemento primordial, a matéria primitiva de que são compostos
todos os seres.
Os
mais conhecidos são: Tales de Mileto,
Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto.
Os
jônios posteriores distinguem-se dos antigos não só por virem cronologicamente
depois, senão principalmente por imprimirem outra orientação aos estudos
cosmológicos, encarando o Universo no
seu aspecto dinâmico, e procurando resolver o problema do movimento e da transformação dos corpos. Os mais conhecidos são: Heráclito de Éfeso, Empédocles de Agrigento, Anaxágoras
de Clazômenas.
Tales de
Mileto (624-548 A.C.) "Água"
Tales
de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o
mais antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito, mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única
de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a
água, no oceano.
Cultivou
também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os
gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre
solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros
para orientar a navegação. Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu
pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe
atribuíram uma idéia básica: a de que tudo
se origina da água.
Segundo
Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se
aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente
esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem
as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser
resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; a água é a
causa material de todas as coisas.
Aristóteles,
tentando traduzir o pensamento de Tales, identificou a flutuação sobre a água
com o elemento estático e a geração e a nutrição de todas as coisas pela água
com o elemento estático. Tales acreditava em uma "alma do
mundo", havia um espírito divino que formava todas as coisas da água.
Tales sustentava ser a água a
substância de todas as coisas.
Anaximandro
de Mileto (611-547
A.C.) "Ápeiron"
Anaximandro
de Mileto, geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de
Tales e autor de um tratado Da Natureza,
põe como princípio universal uma
substância indefinida, o ápeiron
(ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente
indeterminada.
Deste
ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo
de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe
também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em
homens. Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o
ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos
- água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O ápeiron é assim algo abstrato, que não se
fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza.
Com
essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um
passo a mais na direção da independência do "princípio" em relação às
coisas particulares. Para ele, o princípio da "physis" (natureza) é o
ápeiron (ilimitado).
Atribui-se
a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia
do uso do gnômon (relógio de sol) e a
medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o
iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a
formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total.
Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto.
Anaximandro julga que o elemento primordial
seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.
Anaxímenes de
Mileto (588-524 A.C.) "Ar"
Segundo
Anaxímenes, a arkhé (princípio) que
comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem
palpável demais como a água. Tudo provém
do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o
ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do
ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes
entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse
único elemento.
Atribuindo
vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos
seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo
e o panteísmo naturalista. Anaxímenes
dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua
recebe sua luz do Sol.
Anaxímenes julga que o elemento
primordial das coisas é o ar.
Escola
Itálica, ou Pitagórica
Pitágoras,
o fundador da Escola Itálica, ou pitagórica, nasceu em Samos, pelos anos 571-70
a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia
grega, uma associação científico-ético-política, que foi o cenro de irradiação
da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da
Sicília. Pitágoras aspirava – e conseguiu – a fazer com que a educação ética da
escola se ampliasse e se tornasse reforma política.
Segundo
o pitagorismo, a essência, o princípio
essencial de que são compostas todas as coisas é o número, ou seja, as
relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo, ainda bem forma, lei e
matéria, consideram o número como sendo a união de um e outro elemento. Da
racional concepção de que tudo é regulado segundo relações numéricas, passa-se
à visão fantástica de que o número seja a essência das coisas.
Mas,
achada a substância uma e imutável das coisas, os pitagóricos se acham em
dificuldades para explicar a multiplicidade e o “vir-a-ser”, precisamente
mediante o uno e o imutável. E julgam poder explicar a variedade do mundo
mediante o concurso dos opostos, que são o ilimitado e o limitado, ou seja, o
par e o ímpar, o perfeito e o imperfeito.
O número divide-se em par, considerado
como ilimitado, ou seja, que não põe limites à divisão por dois, e ímpar, limitado, determinado,
perfeito (pois põe limites à divisão por dois). Os elementos constitutivos de
cada coisa – sendo cada coisa número – são o par e o ímpar, o ilimitado e o
limitado, o pior e o melhor.
Como
a filosofia da natureza, a astronomia pitagórica representa um progresso sobre
a jônica. De fato, os pitagóricos afirmaram a esfericidade da Terra e dos
demais corpos celestes, bem como a rotação da Terra, explicando, assim, o dia e
a noite; e afirmaram a revolução dos corpos celestes em torno de um foco
central.
Quanto
à moral, dominam no pensamento pitagórico o conceito de harmonia, as práticas
ascéticas e abstinenciais, com referências a ideias reencarnacionistas.
Assistamos ao vídeo abaixo:
Heráclito
Com
Heráclito, de Éfeso, a filosofia pré-socrática – após sua expansão no sul da
Itália – afirma-se na Ásia Menor. Heráclito, de raça jônica e estirpe real,
solitário desdenhoso e da azáfama (correria), viveu entre o VI e V século, e
expôs o seu sistema numa obra filosófica intitulada Da Natureza.
A
doutrina de Heráclito pode-se resumir nos princípios seguintes:
·
A
essência de tudo, o “elemento primordial”, é o “vir-a-ser”,
ou o “devir”: tudo se acha em
perpétuo fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo. O único
princípio estável da realidade é a lei universal do próprio devir, que
Heráclito concretiza no fogo, visto ser o elemento da realidade material mais
adequado a representar o vir-a-ser. Unicamente a razão, que tem por objeto o
universal, colhe esta lei do devir universal;
·
O
vir-a-ser é uma antítese entre a vida e a morte:
“a luta é a regra do mundo e a guerra é a geradora e a dominadora de todas as
coisas”;
·
Este vir-a-ser e esta oposição são
reconduzidos à estabilidade e à unidade pela harmonia, pela sabedoria
universal, que determinam o acordo entre as oposições. A unidade do real está na lei dialética, racional, do vir-a-ser. A
causa da diferenciação das coisas está no devir.
Escola
Eleata
Também a filosofia eleata – como já a
pitagórica – representa uma importação grega, e precisamente jônica, para a
Itália do Sul. O fundador da assim chamada escola
eleata, do lugar onde ela floresceu, Eléia, é Xenófanes, nascido em Cólofon, na Ásia Menor, pelos anos 580-76
a.C. Criticando o politeísmo e o antropomorfismo das concepções populares de
Homero e de Hesíodo, Xenófanes sustenta
que há uma única substância divina, eterna e imutável, tudo abraçando e
governando com o pensamento.
Outro
filósofo eleata, Parmênides (nascido
na primeira metade do século V a.C.), aceita
o ser uno e imutável de Xenófanes, despojando-o dos atributos divinos e
religiosos, de modo que temos um puro princípio metafísico e cosmológico.
Ainda, Parmênides distingue entre a ciência (que nos dá a verdade), que é
construída mediante a razão, da opinião, de que provém o erro. Para Parmênides, o princípio primordial das
coisas é o ser, uno, idêntico, imutável, eterno.
Finalmente,
uma terceira geração de elatas encontra seu expoente em Zenão (490-430 a.C.), que foi discípulo de Parmênides. Como este, Zenão aceita a concepção do ser uno e
imutável, a que, porém, acrescenta a infinitude.
Zenão destaca-se, contudo, pelas suas argumentações contra a multiplicidade e
contra o movimento. Ele parte do pressuposto de que o espaço é dividido em
partes infinitas, e daí deduz a impossibilidade de que um corpo possa percorrer
o número infinito de pontos, um após o outro, de que consta o espaço.
Empédocles,
nascido em Agrigento entre 492 e 432 a.C.,
foi um profeta, médico e filósofo que dividiu o ser uno dos eleatas em quatro elementos fundamentais, primordiais,
quais sejam a terra, a água, o ar e o fogo para poder explicar a variedade
e a mudança dos fenômenos e das coisas, mediante a diversa combinação desses
quatro elementos. Essa combinação realiza-se mediante duas forças fundamentais
e primiordiais: o amor e o ódio.
O amor conserva tudo unido, ao passo
que o ódio tudo divide. A princípio, domina unicamente o amor e, portanto, a
harmonia e a paz, como que numa idade de ouro. Depois, mistura-se como o amor o
ódio, a divisão, donde a origem dos seres individuais que, num predomínio
sucessivo do ódio, são destruídos. Isso provoca uma reação, uma volta ao amor,
recomeçando daí um novo ciclo e, assim por diante, repete-se um eterno retorno
de coisas e eventos.
Escola
Atomística
Demócrito (c. 460 – 370 a. C.)
era natural da cidade portuária de
Abdera, na costa norte do mar Egeu. Considerado o último grande filósofo da natureza, Demócrito concordava com seus antecessores
num ponto: as transformações que se podiam observar na natureza não
significavam que algo realmente se transformava. Ele presumiu, então, que todas as coisas eram constituídas por uma
infinidade de partículas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna e
imutável. A estas unidades mínimas Demócrito deu o nome de átomos.
A palavra átomo significa indivisível. Para Demócrito era muito importante
estabelecer que as unidades constituintes de todas as coisas não podiam ser
divididas em unidades ainda menores. Isto porque se os átomos também fossem
passíveis de desintegração e pudessem ser divididos em unidades ainda menores,
a natureza acabaria por se diluir totalmente.
Além disso, as partículas constituintes da
natureza tinham que ser eternas, pois nada pode surgir do nada. Neste ponto,
Demócrito concordava com Parmênides e com os eleatas. Para ele, os átomos eram
unidades firmes e sólidas. Só não podiam ser iguais, pois se todos os átomos
fossem iguais não haveria explicação para o fato de eles se combinarem para
formar por exemplo rochas ou mesmo seres.
Demócrito achava que existia na natureza uma infinidade de
átomos diferentes: alguns arredondados e lisos, outros irregulares e
retorcidos. E precisamente porque suas formas eram tão irregulares é que eles
podiam ser combinados para dar origem a corpos os mais diversos.
Independentemente, porém, do número de átomos e de sua diversidade, todos eles
seriam eternos, imutáveis e indivisíveis.
Se um corpo – por exemplo, de uma árvore ou de
um animal – morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser
reaproveitados para dar origem a outros corpos. Pois se é verdade que os átomos
se movimentam no espaço, também é verdade que eles possuem diferentes engates e
podem ser novamente reaproveitados na composição de outras coisas que vemos ao
nosso redor.
É claro que também podemos construir objetos de barro. Mas o
barro nem sempre pode ser reaproveitado, pois se desfaz em partes cada vez
menores, até se reduzir a pó. E estas minúsculas partículas de argila podem ser
reunidas para formar novos objetos.
Hoje em dia podemos dizer que a teoria atômica de Demócrito
estava quase perfeita. De fato, a natureza é composta de diferentes átomos, que
se ligam a outros para depois se separarem novamente. Um átomo de hidrogênio
presente numa molécula de água pode ter pertencido um dia à uma molécula de
metano. Um átomo de carbono que está hoje no músculo de um coração
provavelmente esteve um dia na cauda de um dinossauro.
Hoje em dia, porém, a ciência descobriu que os átomos podem
ser divididos em partículas ainda menores, as partículas elementares. São elas
os prótons, nêutrons e elétrons. E estas partículas também podem ser divididas
em outras, menores ainda. Mas os físicos são unânimes em achar que em alguma
parte deve haver um limite para esta divisão. Deve haver as chamadas partículas
mínimas, a partir das quais toda a natureza se constrói.
Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa
época. Na verdade, sua única ferramenta foi a sua razão. Mas a razão não lhe
deixou escolha. Se aceitamos que nada pode se transformar, que nada surge do
nada e que nada desaparece, então a natureza simplesmente tem de ser composta
por partículas minúsculas, que se combinam e depois se separam.
Demócrito
não acreditava numa força ou numa inteligência que pudessem intervir nos
processos naturais. As únicas coisas que existem são os átomos e o vácuo, dizia
ele. E como ele só acreditava no material, nós o chamamos de materialista.
Por detrás do movimento dos átomos, portanto, não havia
determinada intenção. Mas isto não significa que tudo o que acontece é um
acaso, pois tudo é regido pelas inalteráveis leis da natureza. Demócrito
acreditava que tudo o que acontece tem uma causa natural; uma causa que é
inerente à própria coisa. Conta-se que ele teria dito que preferiria descobrir
uma lei natural a se tornar rei da Pérsia.
Para Demócrito, a teoria atômica explicava também nossas
percepções sensoriais. Quando percebemos alguma coisa, isto se deve ao
movimento dos átomos no espaço. Quando vejo a Lua, isto acontece porque os
átomos da Lua tocam os meus olhos.
Mas o que acontece com a consciência? Está aí uma coisa que
não pode ser composta de átomos, quer dizer, de coisas materiais, certo?
Errado. Demócrito acreditava que a alma era composta por alguns átomos
particularmente arredondados e lisos, os átomos da alma. Quando uma pessoa
morre, os átomos de sua alma espalham-se para todas as direções e podem se
agregar a outra alma, no mesmo momento em que esta é formada.
Isto significa que o homem não possui uma alma imortal. E
este é um pensamento compartilhado por muitas pessoas em nossos dias. Como
Demócrito, elas acreditam que a alma está intimamente relacionada ao cérebro e
que não podemos possuir qualquer forma de consciência quando o cérebro deixa de
funcionar e degenera.
Com
sua teoria atômica, Demócrito coloca um ponto final, pelo menos
temporariamente, na filosofia natural grega. Ele concorda com Heráclito em que tudo flui na natureza,
pois as formas vão e vêm. Por detrás de tudo o que flui, porém, há algo de
eterno e de imutável, que não flui. A isto ele dá o nome de átomo.
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